Mpox: A Emergência Global que Retorna com Força
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Publicado em 20/08/2024

Por: Rômulo Menicucci

 

O que é a Mpox e por que ela voltou a ser uma ameaça global

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em agosto de 2024, que a Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é novamente uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Esta decisão, que reativa o mais alto nível de alerta da agência da ONU, surge após a identificação de uma nova variante do vírus causador da doença e um aumento preocupante no número de infecções ao redor do mundo.

A Mpox é uma zoonose viral, ou seja, uma doença transmitida de animais para humanos, e vice-versa. O vírus que a provoca pertence à mesma família da varíola humana, que foi erradicada em 1980. Embora geralmente considerada uma doença leve, a Mpox pode causar complicações graves, especialmente em indivíduos com imunidade comprometida.

O primeiro surto global de Mpox ocorreu em 2022, quando a OMS a classificou pela primeira vez como uma emergência de saúde pública global. Embora os casos tenham diminuído em 2023, o vírus continuou a circular, especialmente em regiões onde a doença já era endêmica, como na África Central e Ocidental. Em 2024, uma nova cepa, denominada Clado Ib, mais transmissível e letal, foi identificada, levando à reclassificação da doença como uma ameaça global.

 

Os Sintomas e Formas de Transmissão da Mpox

A Mpox se manifesta através de uma série de sintomas que podem variar em intensidade. As manifestações clínicas mais comuns incluem erupções cutâneas, lesões na pele, febre, dor de cabeça, dores musculares e inchaço dos linfonodos (ínguas). Em alguns casos, as lesões podem começar a aparecer em áreas específicas, como genitais, boca ou ânus, e se espalhar para outras partes do corpo. Pessoas com imunidade comprometida, como pacientes oncológicos ou aqueles vivendo com HIV sem tratamento adequado, podem apresentar sintomas mais severos, com lesões disseminadas por todo o corpo.

A transmissão da Mpox ocorre principalmente através do contato direto pele a pele com as lesões de uma pessoa infectada. Além disso, a doença pode ser transmitida por gotículas respiratórias durante contato próximo e prolongado, ou por meio de objetos contaminados, como roupas, toalhas e utensílios. É importante ressaltar que, durante o surto de 2022, a maioria das infecções ocorreu em homens que fazem sexo com homens, o que gerou estigmas e desafios adicionais no manejo da doença.

 

Por que a Mpox se Tornou uma Emergência de Saúde Global Novamente?

A reclassificação da Mpox como uma emergência global se deve ao surgimento de uma nova variante do vírus, conhecida como Clado Ib, que se mostrou mais letal e com maior capacidade de transmissão em comparação com versões anteriores. Esta variante foi identificada em um número crescente de países, incluindo nações onde a Mpox não era endêmica. A República Democrática do Congo, por exemplo, registrou um aumento significativo de casos, com 96% das infecções e mortes globais em 2024 ocorrendo no país.

Até agosto de 2024, mais de 14 mil casos de Mpox foram confirmados em todo o mundo, resultando em 524 mortes. Este aumento de 160% nos casos em comparação com o mesmo período de 2023 sinaliza um cenário alarmante. A OMS expressou preocupação com a possibilidade de uma disseminação ainda maior do vírus, especialmente em áreas fora da África, onde o Clado Ib poderia causar surtos significativos.

 

O Cenário no Brasil e as Medidas de Prevenção

O Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário global da Mpox, sendo o segundo país com o maior número de casos, atrás apenas dos Estados Unidos. Desde o início do surto em 2022, mais de 11 mil casos foram registrados no país, com 16 mortes confirmadas. Em 2024, o Brasil relatou 709 casos confirmados ou prováveis, com a situação epidemiológica permanecendo relativamente estável.

Embora o Ministério da Saúde tenha afirmado que não há motivo para alarme, a criação de um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para monitorar e coordenar a resposta à doença mostra que o governo está atento aos riscos. Até o momento, não há registro da nova variante Clado Ib no Brasil, mas as autoridades continuam em alerta.

A estratégia de vacinação contra a Mpox no Brasil enfrenta desafios significativos. Atualmente, existe apenas um fabricante global da vacina, localizada na Noruega, o que limita a disponibilidade de doses. No Brasil, mais de 29 mil doses foram aplicadas, com foco em grupos de risco, como homens que fazem sexo com homens e pessoas vivendo com HIV. No entanto, a cobertura vacinal é insuficiente para conter um surto em larga escala, especialmente diante da ameaça da nova variante.

 

Estigmas, Desafios e Perspectivas Futuras

A Mpox, assim como outras doenças infecciosas, enfrenta o desafio adicional dos estigmas sociais. A associação inicial da doença com grupos específicos, como homens que fazem sexo com homens, gerou discriminação e dificultou os esforços de conscientização e prevenção. Para Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da Unisinos, a conscientização é fundamental para a estratégia contra a Mpox e outras enfermidades. É essencial fornecer acesso à saúde, vacinas e tratamentos nas áreas afetadas, ao mesmo tempo em que se combate a desinformação e o preconceito.

 

No cenário global, a OMS continua monitorando a situação de perto, com a esperança de que as ações coordenadas possam prevenir uma escalada maior da doença. Entretanto, o risco de surtos em novos países, aliado à limitada disponibilidade de vacinas e à circulação de variantes mais perigosas, como o Clado Ib, torna a situação delicada. A vigilância genômica, o diagnóstico precoce e o isolamento de casos continuam sendo as principais ferramentas na luta contra a Mpox.

A emergência de saúde pública decretada pela OMS serve como um lembrete de que, em um mundo globalizado, as doenças infecciosas podem se espalhar rapidamente, exigindo respostas rápidas e eficazes. A Mpox, uma doença que parecia confinada a certas regiões da África, agora é uma preocupação global. A batalha contra essa infecção depende não apenas de intervenções médicas, mas também de uma abordagem ampla que inclua a conscientização, a eliminação de estigmas e a cooperação internacional.

 

Próximas Ações

A reclassificação da Mpox como uma emergência de saúde pública global sublinha a necessidade urgente de vigilância, prevenção e ação coordenada para conter a propagação da doença. Com uma nova variante mais transmissível e letal em circulação, a comunidade global enfrenta um desafio significativo. O Brasil, como um dos países mais afetados, tem um papel crucial na resposta a essa crise, que exige não apenas intervenções de saúde, mas também a mobilização da sociedade para enfrentar estigmas e garantir que as medidas preventivas sejam eficazes e acessíveis a todos.

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