O que se sabe sobre caso de Poliomielite em investigação no Pará
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Publicado em 10/10/2022

Paciente de três anos começou a apresentar sintomas característicos da doença; esquema vacinal estava incompleto

 

Na última semana a Secretaria Estadual de Saúde do Pará divulgou o caso sob investigação de um menino de três anos com sintomas de poliomielite no estado — febre, dores musculares e redução da capacidade motora nas pernas. Quando foi hospitalizado, 22 dias após o aparecimento dos primeiros sinais, o menino já não conseguia ficar de pé. A pasta afirma que ainda demorará alguns dias para ter uma confirmação do caso, entretanto, se for constatado, será o primeiro caso da doença no país desde 1989.

 

Exames encontraram, em uma amostra das fezes do paciente, o vírus Sabin Like 3, patógeno atenuado usado em vacinas — o vírus pólio selvagem foi erradicado do Brasil em 1994 — entretanto, outros estudos estão sendo feitos para ter certeza se o vírus encontrado nas fezes do garoto é que de fato provocou os sintomas apresentados.

 

O paciente, morador do município de Santo Antônio do Tauá, no interior do estado, apresentou febre, dores musculares, mialgia e paralisia flácida aguda (PFA) em 21 de agosto, um dia após tomar as vacinas tríplice viral e a vacina oral para pólio, a famosa gotinha. Três semanas depois, ele perdeu a força nos membros inferiores, sem conseguir se manter em pé.

 

Ao analisar o histórico vacinal da criança, a Vigilância Epidemiológica municipal verificou que estava incompleto. A criança possuía duas doses da vacina oral (VOP) e nenhuma da inativada (VIP).

 

O esquema vacinal contra a pólio no Brasil é feito da seguinte forma: três doses iniciais da vacina inativada, aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade. Seguida de dois reforços com a vacina atenuada (VOP), entre os 15 e 18 meses de vida e depois, mais uma vez, aos 4 anos.

 

Seguir corretamente essa sequência é importante porque a VOP é uma vacina oral atenuada bivalente, ou seja, composta pelos vírus da pólio tipos 1 e 3, "enfraquecidos". Isso significa que em pessoas não imunizadas, há o risco de o vírus contido na vacina oral causar sintomas de poliomielite, incluindo paralisia.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que países como o Brasil passem a utilizar a vacina inativada, que não oferece esse risco e ainda protege contra os tipos 1, 2 e 3 de poliovírus.

 

O uso da vacina oral se torna ainda mais crítico em um cenário de baixa cobertura vacinal, como o que o Brasil vive agora, os indicadores de imunização infantil estão em queda desde 2015. No ano passado, segundo a Fiocruz, a campanha contra a doença cobriu apenas 67,1% do público alvo, índice considerado muito abaixo do ideal, que é de 95%.

 

Outras possibilidades ainda não foram descartadas pelo órgão. De acordo com a secretaria de saúde, outra opção é que a criança tenha desenvolvido a síndrome de Guillain-Barré, distúrbio autoimune que pode ser desencadeado após o combate a uma infecção viral, por exemplo. Ou se o quadro tenha sido uma coincidência e o paciente já tivesse alguma doença que se manifestou depois de ter tomado a vacina.

 

A secretaria de saúde deslocou uma equipe de vigilância epidemiológica para o município de Santo Antônio do Tauá para qualificar as informações e avaliar o quadro clínico. O paciente se recupera em casa e está sendo assistido pelo governo do estado.

 

O Ministério da Saúde também enviou uma equipe para ajudar nas investigações. A pasta informou que não há registro de circulação viral da poliomielite no Brasil e que, de acordo com as informações enviadas pela secretaria estadual de saúde, o caso pode estar relacionado a um evento ocasionado por vacinação inadequada.

 

Enquanto o vírus da poliomielite não for erradicado em todo o mundo, existe o risco que ele volte a circular. Por isso, é importante que as crianças menores de cinco anos sejam vacinadas com o protocolo determinado pelo PNI — a imunização é a única forma de evitar que pessoas sejam contaminadas pelo vírus. Em Carangola, a campanha de vacinação contra a Poliomielite vai até o dia 31 de outubro. De acordo com Beth Graça, enfermeira e coordenadora da sala de vacinas de Carangola, o município já vacinou 77% das crianças com idade vacinável para a Pólio, sendo 1156 crianças de 01 a 04 anos no total. Podem ser vacinadas crianças com até 04 anos, 11 meses e 29 dias. Beth reforça o pedido para que pais e responsáveis levem as crianças para serem vacinadas. 

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