O primeiro dia de prova do ENEM foi marcado, principalmente, pela redação. Neste ano, o exame trouxe como tema os “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. Os estudantes tinham que argumentar sobre o assunto a partir de um ponto de vista valendo 1.000 pontos. Para o professor de redação Welington Filipe Chempe, foi de extrema relevância o MEC ter abordado esse tópico.
“É de suma importância para atualidade, pois permite uma discussão sobre a percepção, não só espacial e ambiental, mas também cultural de comunidades que, em muitos momentos, estão à margem da sociedade moderna”, disse ele, que hoje em dia trabalha no Estadual e Oficina do Saber, em Carangola.
“Atualmente, no Brasil, temos cerca de 28 comunidades e povos tradicionais. No entanto, percebe-se que essas comunidades sofrem com a carência de políticas públicas para preservação cultural e histórica. Um exemplo disso pode ser verificado pelo recente falecimento de um indígena brasileiro, o qual recebera a alcunha de índio do buraco pelo fato de construir armadilhas para caça por meio escavações na floresta. Último de sua tribo: dizimada por grileiros e garimpeiros na década de 90, foi considerado o homem que viveu mais tempo isolado no mundo. Logo, nunca saberemos a língua e a história dessa comunidade. Portanto, ainda há muito por ser feito sobre o reconhecimento de tais comunidades. O simples fato de o MEC levantar esta discussão é apenas o primeiro passo”, pontuou o professor.
A professora de redação e idealizadora do Contexto, Ludimila Bevilaqua, comemora a escolha do tema. “Um exame que coloca jovens do Brasil inteiro para escrever sobre uma mesma temática é, sem dúvida, uma grande oportunidade para despertar neles a verdadeira cidadania, a importância da "comum-unidade". É um tema para olhar o Brasil cultural, olhar nossas artes: nossa literatura, nossa pintura, nossa música, nossas sementes crioulas, nossa gente!”
O professor de língua portuguesa e literatura Ronaldo Viana também enxergou a importância da abordagem do assunto. “Tema surpreendente e muito necessário, pois aponta para o futuro e leva o jovem a refletir sobre povos invisíveis para a sociedade brasileira e para a máquina estatal. Povos importantes para a cultura Brasileira, povos que ajudaram a construir este país e que foram deixados à mercê da própria sorte. Parabens ao INEP que não se rendeu aos ataques do bolsonarismo”, opinou Ronaldo.
Para conseguir chegar à pontuação máxima da redação, os estudantes são avaliados de 0 a 200 para cada competência abaixo:
- Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa;
- Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;
- Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
- Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
- Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.