O racismo é, de fato, uma chaga da sociedade, não só no Brasil, mas em todo o mundo. É algo tão entranhado em nosso meio, que, na maioria das vezes, não nos damos conta de sua existência. Entretanto foquemos em nosso país. É perceptível, atualmente, um movimento bem significativo em relação a isto e a forma com que o negro se enxerga na sociedade e na vida. Porém, ao refletirmos e analisarmos algumas situações, podemos nos perguntar: No que consiste, realmente, o racismo?
Quando paramos para nos perguntar isso, precisamos, primeiramente, compreender o que é ser negro na sociedade. Levando em consideração diversas situações corriqueiras, que passam normalmente, despercebidas pelas pessoas, compreendemos que o racismo vai muito além de receber apelidos maldosos, por parte de ignorantes.
Ao observarmos a criação de nossas crianças, vemos a implantação de padrões estéticos e de ideias que vão em confronto com a realidade étnica e racial do nosso povo. Somos ensinados, desde a infância, com as belas histórias dos contos de fada, que a beleza está nos cabelos lisos das princesas e príncipes; está nos olhos azuis, lábios e narizes finos, dos modelos, que vemos estampados em capas de revistas de moda; vemos os ícones e ídolos jovens, das novelas, filmes e da música, em sua grande maioria brancos e somos motivados e manipulados a nos assemelharmos a eles. A grande questão, não é que, na realidade, não exista beleza nessas figuras citadas, o problema é quando nos olhamos no espelho e vemos características em nós, diferentes destas e não somos levados a ver beleza, amar e aceitar a nossa imagem.
O efeito destes padrões midiáticos, sociais e estéticos é a realidade de adolescentes, jovens e adultos negros que crescem, muitas vezes, não enxergando beleza em si mesmos e não se amando em sua individualidade e aparência natural. É a busca pelos tratamentos de beleza que esticam os cabelos e afinam o nariz. É a negação das características afrodescendentes que carregamos. Nisso, a construção da autoestima é prejudicada por um estereótipo de beleza racista e preconceituoso que nos afasta de nossa identidade.
Ensinemos nossas crianças, que a beleza está nas mais diversas formas, características e cores. Ensinemos para nossos filhos, que todo ser humano vale a pena e é belo, pelo fato de que todos são filhos amados de Deus e todos nós valemos a pena por sermos quem somos.
A autoestima pode e deve ser ensinada e trabalhada, na prática da valorização de cada ser humano nas suas adversidades e peculiaridades. Toda pessoa acrescenta na criação divina com sua beleza singular e especial. A desigualdade só será superada, quando todo ser humano for promovido e levado a se enxergar enquanto ser único e digno de amor, respeito e acolhida.
Diácono Malvino Neto